Ser Ou Não Ser Eis a Questão


Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos. Antonie de Saint-Exupery


Wilma Rejane

Quando vejo o oceano, imagino que ele contém o choro do mundo. O pranto, o ruído das ondas é como um coração que se move em idas e vindas ao infinito transmitindo vida ou quem sabe morte. Na renovação da natureza, há riso e choro: um dia ensolarado, de céu sem nuvens e crianças correndo é como um riso  voluntário, distribuído aos passeantes. Numa árvore seca e sem vida, há choro. E assim Deus em Sua perfeição, faz com que os opostos equilibrem a rotina dos dias.

O ciclo dos opostos  acontece também e principalmente em nossas vidas. Para o filósofo Heráclito, o mundo se faz em mobilismos:“O deus é dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, saciedade-fome; varia como o fogo que ateado a especiarias é chamado conforme o perfume destas. A doença torna agradável a saúde; a fome, a saciedade; a fadiga, o repouso”

O deus em Heráclito era chamado de logos, a harmonia que equilibra o universo e o ser, uma voz que deveria ser ouvida por todos os homens a fim de tornarem a vida mais feliz.  Parmênides, por sua vez, defendia o imobilismo: Onde há vida, é impossível haver morte e se a morte existe é porque a vida deixou de existir. Parece lógico, mas é possível se pensar o contrário. Heráclito defendeu que tudo é movimento, assim como as águas de um rio: “É impossível banhar-se duas vezes no mesmo rio. O rio já não será o mesmo, nem o homem”. Platão e Aristóteles combateram o pensamento de Parmênides de que: Só existe o ser porque é impossível ser e não ser.


A tão conhecida frase de William Shakespeare: “Ser ou não ser, eis a questão”,  da peça teatral “A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca” indica mais que uma fala  construída em literatura e arte, ela é a ânsia de se buscar o significado da vida. Essa busca, presente nos homens e expressa na natureza, está também na Bíblia e Tiago opta pelo principio da não contrariedade ao afirmar que é impossível duas naturezas coexistirem em um mesmo ente:


“Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa? Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas ou a videira figos? Assim tão pouco pode uma mesma fonte dar água doce e salgada” Tg 3:10,12.

Esses versos de Tiago ajudaram bastante no começo de minha caminhada com Jesus. Eu tinha a tendência de me punir por erros já perdoados por Jesus e a culpa me revolvia em sentimento de inferioridade. Quando li Tiago, passei a confessar: “ Não posso ser duas coisas ao mesmo tempo: livre e escrava, então sou livre, em Cristo sou livre e não pode ser diferente!”

É verdade que o imobilismo de Parmênides e o mobilismo de Heráclito,  soam complicado e de longe daria um bom sermão, mas assim como na peça de Shakespeare é necessário que haja essa reflexão : “Ser ou não ser, eis a questão”. Na resposta, nem sempre fácil de ser encontrada, reside a felicidade ou infelicidade de todos e de qualquer um.

“Que a vossa palavra seja sim, sim, e não, não;para que não caiais em tentação” Tg 2: 12. Ou seja: Não viva de contrários.

Fiz um passeio pelos filósofos como em parábola para ilustrar as diversas formas de pensamento em relação ao ser, formas que são reais para nós: Há os que acreditam que podem viver em paz servindo a dois senhores e os que escolheram servir a um único senhor: em bem ou mal.

A Bíblia nos fala de escolhas, de caminhos tortos e aplanados, de vida e morte e nos convida a escolhermos o plano libertário de Deus, onde a dúvida dá lugar a certeza e tudo que não era, passa a ser e se há algo que foi mal, passará a ser diferente. Eis a resposta que procurava os filósofos, eis a perfeição da criação:

Eis que faço novas todas as coisas" Ap 21: 5.



Deus nos abençoe.

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