O despertador tocou, levanta quem quer.



Esse artigo sobre música e mercado gospel é uma indicação do Pastor Vanelli que me informou via e-mail da estreia de seu filho João Madureira Vanelli na blogosfera cristã - evangélica. Li com atenção, assisti a entrevista com a banda Resgate e republico aqui o tratado do João que também é músico e historiador. Bem vindo a blogosfera João! Que prossigas escrevendo outros artigos, tão bons quanto este.

*por João Madureira Vanelli

Recordo-me de minha infância, em que gostava de me sentar próximo ao altar da igreja e ouvir as canções e os hinos que eram tocados, me lembro de que Asaph, Adhemar, Daniel de Souza, Bené Gomes, Grupo Logus e Altos Louvores, juntamente com Koynonia eram referências nos períodos de louvor da Igreja. Músicas como Estrela da Manhã de Jônatas Liasch, Ao Pé do Monte da banda Actos II e Sala do Trono do Koynonia, nos inspiravam de tal forma que sonhávamos em aprendê-las e toca-las exaustivamente. 

É claro que, apesar de ter essas músicas imortalizadas na mente e no coração, assim como o corpo de uma criança sofre mudanças e chega à adolescência, as aspirações, paixões e gostos pessoais também sofrem alterações, e foi então que conheci a próxima geração de músicos e bandas que viriam a estourar no meio evangélico. Surgiram na minha vida bandas como Rebanhão, Oficina G3, Fruto Sagrado e Resgate. 

Num perfil geral, músicos talentosos resgatados pelo evangelho de Cristo e a mensagem da Cruz, que se aproveitando das experiências vividas e da nova paixão por almas perdidas, perpetraram uma jornada em função da pregação do evangelho, usando o rock´n roll como veículo para isso.

Uso essas memórias para introduzir uma série de reflexões com qual, eu mesmo, tenho me importunado e remoído, após uma entrevista feita por um programa evangélico com os membros da banda Resgate, e confesso que essa entrevista só aumentou meu apreço pelos mesmos.

Questionado acerca do mercado musical gospel atual, da Igreja e das atitudes da mesma no Brasil, o pastor Zé Bruno, guitarrista e vocalista da banda, deu algumas respostas que no mínimo deveriam causar reflexão e insônia nos cristãos do Brasil, ou melhor, nas próprias palavras de Zé Bruno: “... o despertador tocou, levanta quem quer.”



Zé Bruno coloca em termos categóricos e até explícitos que a Igreja no Brasil anda caída ainda no sono apático dos acomodados e que o que antes era chamado por chamado ou ministério de adoração, tornou-se uma busca de classificação do melhor entre os iguais. Falou da saturação gerada pelo enxerto de músicas estrangeiras, não desmerecendo a qualidade dessas músicas, no meio da chamada “arte e cultura gospel brasileira”, e da falta de evangelismo concreto, puro e simples no Brasil.

Quando digo que houve um aumento do meu apreço pelo Resgate, não digo isso pelas observações e posições críticas à Igreja, mas sim pela capacidade de visão e senso críticos demonstrados em sua posição e que revelam na verdade a inconformidade que, pelo menos segundo Romanos 12: 2, deveria se fazer presente diante de tal situação na cabeça de todo cristão.

Após muita reflexão, tenho comigo que o discurso dos membros do Resgate, é na verdade um alarme gritando que os cristãos devem acordar e sair do “sono da indolência” e perceber que nosso propósito aqui é outro além de nos sentirmos confortáveis e alimentados dentro de uma bolha criada pelos próprios cristãos, chamada de cultura gospel, enquanto o mundo se perde porque estamos preocupado em satisfazer os rituais de “boacumba” gospel implantados numa prática de política populista interna e tirarmos dos ouvidos a cera da teologia da prosperidade e do famoso evangeliquês, que visa única e exclusivamente massagear o ego de quem se sente salvo, sentado e satisfeito.

Como amante da arte e da música principalmente, não poderia deixar de esmiuçar meus pensamentos, ideias e considerações a respeito do que tem acontecido no mercado gospel e na cultura musical gospel. Pensando a respeito dos padrões que tanto me encantam na música, na sua linguagem, na poesia, nas mensagens, na capacidade de transmitir tanto emoções quanto ideologias e filosofias, perturbam-me a pasteurização e a pratica neocolonialista que tem ocorrido, através do comércio, com a música gospel.

Fui mais afundo, e já que existe intenção comercial da música gospel e a secular, procurei observar o desenvolvimento das duas ordens referidas. No Brasil tivemos momentos de desenvolvimento da Bossa Nova, que ficou caracterizada como a música do Brasil, juntamente com o samba, tivemos o movimento da Tropicália que tinha por objetivo a derrubada da Ditadura Militar e depois o surgimento do Rock Nacional nas décadas de 70 e 80, isso sem falar no Sertanejo de Raiz, nas características folclóricas e impossível deixar de lado a música clássica com Vila-Lobos.  

Em todo esse tempo a Igreja se desenvolveu no seu ritmo sem a mínima intenção de acompanhar a desenvoltura comercial secular, mas voltada antes para seus propósitos de louvor e adoração. Visto isso, passo a analisar atualmente a música e do início do novo século para os idos atuais e considero alarmante a afunilada intencional da música cristã com a secular, não me refiro à ritmos ou estilo musical, mas generalização do conteúdo intelectual dos referidos segmentos musicais, que cada na sua linguagem específica trata de assuntos e observa temáticas unicamente hedonistas, visando o lucro e a vendagem comercial de produtos que chegam a nausear e incomodar qualquer um que preste ao trabalho de analisar e confrontar as letras tanto com o perfil social brasileiro (secular), quanto no perfil cristão apresentado na Bíblia.

Na secularidade, somos trucidados com letras obscenas, que fazem do sexo o seu motor e da libertinagem seu combustível, e no segmento gospel, com a famosa teologia da prosperidade e a ascensão do homem sobre Deus. Nessa levada, para usar um termo bem musical, logo estaremos nos encontrando em um momento de louvor onde toda a Igreja ira entoar um lindo uníssono de Tchê, tcherere tchê tchês e Leleleleles.

Ironias a parte, apesar de todas as críticas, não permito, porém, em meu coração, um esmorecimento da fé, da esperança e do amor. Vejo que existem artistas, sim artistas, aqueles que desenvolvem uma arte, pois a música é uma arte, que têm corações voltados para aquele “Primeiro Amor”  cantado tão lindamente por Carlinhos Félix, com um compromisso verdadeiro como aquele de “A Missão” do Fruto Sagrado e que buscam em todo tempo manter acesa a chama plantada por aquele que é “A Resposta de Deus”(Oficina G3), artistas como o próprio Resgate, Asaph, Adhemar e como o próprio Zé Bruno disse, aqueles que produzem de forma independente e distribuem cds para um fim evangelístico, como tenho imenso prazer em citar meus amigos Cesar Ricky e Jackie Mendes do Tehilim Celtic Rock, que têm um trabalho original e buscam a difusão do evangelho através de sua música.

E por fim, não poderia deixar de citar Jesus, aquele que curou os enfermos, realizou milagres, morreu por nós, perdoou nossos pecados e prometeu que um dia virá nos levar para junto dEle, que tem preparado morada para nós e nos amou com amor maior que o mundo, capaz de deixar sua glória para estar entre nós, mas que também expulsou do templo os mercenários que transformavam aquele lugar de oração em covil de ladrões e declarou trazer espada ao mundo.
Vou Me Lembrar
Lembre-se de quem bebeu do fel amargo de uma taça
Que ainda existe quem torça pra assistir a uma desgraça
E dos fariseus, que engordam com aquilo que é nosso
E dos mercenários que cobram pra nos dar o que é de graça
Lembre-se de quem gera das entranhas o Seu povo
Que valemos mais do que o mundo inteiro com o seu ouro
Que aquele sacrifício, é vivo e permanece sobre todos nós para sempre
Pra sempre
Lembrem-se do pão que nunca nos faltou em meio à seca
De quem multiplicou e faz com que nenhum dos Seus se perca
Que nunca foi alguém de carne e osso que nos fez mais nobres
Que não há mais ninguém melhor do que
Alguém que se fez pobre
Lembre-se de quem nos deu o próprio sangue como um selo
Que homens vão e e vêm mais Ele permanece eternamente
Que Aquele que desceu, é o mesmo que subiu e que nos levará para sempre
Eu vou me lembrar, de não me esquecer
De tudo o que eu fiz
E sempre acreditar que o que me faltar
Deus já me deu
E pelo que eu vivi
Sempre glorificá-Lo
Eu vou me lembrar que mesmo assim
Eu nada sou
E sempre acreditar que
Quando eu morrer
Eu vou viver
E, sem parar
Pra sempre glorificar o meu Deus

Para ilustrar melhor a matéria acima, aqui está o vídeo da entrevista aludida:




*João Madureira Vanelli é Acadêmico de História, músico e filho do pastor Vanelli. Ambos escrevem Aqui

Um comentário:

Congregacional Esperança disse...

Fico feliz em poder encontrar cristãos que ainda pensam, e que sobretudo, usam essa capacidade para avaliar de forma coerente a nossa realidade cristã atual. A mídia chamada cristã tem escravizado de forma tirânica alguns incautos e até alguns espertalhões já mediáticos acenando como a serpente com possibilidades de crescimento financeiro e reconhecimento humanos a qualquer custo. Pr. Zé Bruno, continue com seu grito de protesto, pois vc não está só. Precisamos levantar nossas vozes e dizer não às musicas comerciais, cheias de chavões e alienação gospel.
Quem sabe uma nova reforma venha antes da volta de Jesus e limpe a eira desta atual igreja paganizada e com trejeitos romanos, fazendo-nos voltar às verdades cristãs autenticas.
Pr. Edvar Ferreira