A guitarra de Brian May no Morumbi



I João 2: 17 O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.


João Cruzué


Quando eu tinha 25 anos, o Queen veio pela primeira vez ao Brasil. Eu trabalhava na rua 24 de Maio, no Centro de São Paulo, estudava Economia na Faculdade São Luís dos jesuítas, e congregava na Igreja Assembleia de Deus de Santo Amaro do Pr. João Galdino. Era março de 1981. Os assuntos daqueles dias eram a vinda da Banda Queen para tocar no Estádio do Morumbi e a primeira Cruzada Evangélica da JUADSA no Feirão do Jardim São Luís.

O Centro da Cidade de São Paulo, não era como agora. Ainda tinha o Mappin, a Piter, a Mesbla e o  Buraco do Adhemar. O Instituto Roosevelt, a Casa Manon, os dois Churrasquetos, O Massa D'oro da rua Sete de Abril, o Bon Giovanni da Pedro Américo,  o vegetariano Ewel e concerto de piano de Magdalena Tagliaferro no Theatro Municipal.

O grande comício das "Diretas Já" só viria dois anos mais tarde , em 25 de janeiro de 1983.

A JUADSA - Juventude Unida das Assembleias de Deus de Santo Amaro e Congregações estava em ebulição. Estava por vir a Primeira Cruzada da Igreja - a ser realizada no Feirão do Jardim São Luís, sob a liderança do moço Edson José dos Santos, noivo da Simeia, irmã do Simeão - os dois, da valente mocidade da Assembleia de Deus do Jardim Ibirapuera, dirigida pelo presbítero Rui Felipe dos Reis.

Eu, líder de mocidade e guitarrista da banda Melodia Celeste da Assembleia de Deus do Jardim Duprat, última congregação a comprar uma bateria (Gope de madrepérola) por ordens do Ministério.

Foi neste período que o Queen veio ao Brasil. A publicidade nas FMs alardeava que o som da guitarra de Brian May poderia ser ouvido a três quilômetros de distância do estádio do Morumbi.


O líder da mocidade do Jardim Ibirapuera, o jovem Simeão Rosa de Lima, estava fazendo Teologia no Instituto Betel do Pastor Cherloques de Souza. E creio que foi de um colega Batista do Simeão a ideia de ir até o Morumbi para distribuir folhetos de evangelização na saída do show do Queen.

Uma Kombi foi lotada. Bem antes da chegada ao estádio, a guitarra do Queen já se fazia ouvir. O cara era um virtuose na coisa. Como o show já estava no fim, os portões de saída do Morumbi estavam abertos, e nós entramos. Cada um para o seu lado. Cheguei a ver, lá dentro, no final do show uma "pirâmide" de três pessoas. E nós distribuindo folhetos.

Um mar de pessoas saiu e foi embora. Mas, como o rock n' roll também tem seu lado químico, uma multidão ficou entorpecida ao redor do Estádio. Foi o meu primeiro contato com aquilo que,  na minha opinião, era uma proto-cracolândia. Fiquei impressionado com aquele subproduto do rock. 

Era tanta gente, que me perdi do grupo de evangelização. Tive que voltar a pé para casa. Umas três horas de canela.


Eu voltei ao Morumbi, poucos anos depois, por causa disso,  para evangelizar na vinda de outra banda - o Kiss. Fui com a mocidade da Igreja do Assembleia de Deus do Jardim Duprat, dos tempos do Pastor Luiz França Filho.

Quando veio a Cruzada do Feirão do Jardim São Luís, mais de 400 almas aceitaram Jesus, depois da pregação da " Capa do Cego Bartimeu". Quem pregou foi o Pastor Hidekazu Takayama. A maioria dos novos convertidos chegou até o batismo.

E passaram-se quase 33 anos.

Eu, hoje,  estou com 58 anos, casado, avô e presbítero da Assembleia de Deus


Simeão foi consagrado ao pastorado e está com a cabeça quase sem cabelos. Edson é Pastor do Belém, casou com Simeia, irmã do Pastor Simeão.  Irmão Rui Felipe dos Reis morreu nos anos 90, quando pastoreava a Igreja AD do Jardim Pastor no Capão Redondo. 

O Feirão do Jardim São Luís primeiro virou estacionamento de ônibus do Centro Empresarial. Depois foi derrubado e, hoje, é uma praça com Jardim e um prédio de Batalhão da Polícia Militar.


Os jesuítas da Faculdade São Luís agora têm um Papa da mesma Ordem e  argentino.


A AD de Santo Amaro está decadente. Apareceu recentemente na lista da propina do escândalo dos fiscais do ISS. Foi a única Igreja da Lista. A geração de lideranças da JUADSA dos anos 80s, foi quase toda desprezada pela Igreja e seguiram cada um seu caminho.


Os crentes no Brasil do Censo IBGE 1980 eram 6,63% de  119 milhões. No censo de 2010 eram 22,14% de 191 milhões. Hoje já estão próximos de 25% da população brasileira. 

O Queen já se foi há muito tempo. 

Freddie Mercury (Farrock Bulsara), o vocalista do Queen, morreu em 24 de novembro de 1991. Brian May, o guitarrista, ainda está vivo, mas sua guitarra já não faz o mesmo barulho de 1981. 

Aquela proto-cracolândia, infelizmente, explodiu e mudou de lugar. Não só explodiu, como se tornou um dos maiores problemas sociais que o país já teve. Vem destruindo milhares de pessoas sem distinção de classe, cor, raça, religião, opção sexual, seja no campo ou na Cidade.


João Cruzué edita  Olhar Cristão e é colaborador do Tenda na Rocha

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