A jovialidade do idoso X a sabedoria dos jovens



Wilma Rejane


- Professor, o que o senhor quer dizer com “jovializar o idoso”?

Debatíamos a complexidade dos comportamentos sociais, o apelo da mídia em relação ao jovem e a raridade  de publicidades voltadas para o idoso. Aula de epistemologia no curso de Ciências Sociais em universidade publica que estou cursando. Insisti em perguntar porque percebi certa ironia do professor em relação ao estilo de vida de alguns idosos. A resposta me causou também surpresa,pois, percebi, que  apesar de avançarmos em muitos aspectos como o tecnológico, científico e etc, ainda há certa vertigem social quanto ao relacionamento juventude X idosos.

- Jovializar o idoso é quando, apesar da idade já avançada, o idoso quer ter uma vida sexualmente ativa, quer usar roupas feitas apenas para jovens, quer estar entre os jovens e enfim, ele não se conforma com a idade que tem, quer sempre parecer mais jovem (respondeu o professor).

- Então, o senhor está afirmando que o idoso tem a obrigação de se sentir velho e imprestável? (replicou meu colega de turma por nome Giordano)

- Não. Mas digo que existe um padrão de comportamento que é próprio dos idosos e que deveria ser usual, natural.

Essa aula provocou em mim certa inquietação sobre o tratamento que a sociedade de modo geral destina aos idosos.  Será que essa jovialidade do idoso foi exemplarmente descrita por meu professor? Será que a jovialidade do idoso não estaria relacionada a uma busca por melhor qualidade de vida? Não estaria relacionada a um modo de ser que se nega a ser esquecido, ignorado? A um estado de espírito?

Penso que há algo de errado com uma sociedade que não valoriza o idoso e relega a ele o papel de peça de museu empoeirada e enferrujada. Claro, nosso senso comum, acende o "sinal de alerta" quando se depara com uma senhora idosa de mini saia, porém, não é sobre a concretização do ridículo que falo. É sobre a possibilidade do idoso ser realmente jovial, produtivo e saudável, sem ser ridículo ou estigmatizado.


Na Publicidade

Rebuscando esse tema da publicidade destinada a jovens em detrimento de idosos,encontrei um rico artigo de autoria de Maria Eduarda Mota Rocha que diz:

“A valorização da “juventude” em detrimento da “velhice” é típica em sociedades  modernas, em que a “tradição” é deslocada pela “novidade” e as energias humanas  parecem estar mais voltadas para as promessas do futuro do que para o legado do  passado. O jovem, como encarnação do novo, parece estar mais apto a ser socializado  segundo os hábitos, técnicas e conhecimentos que o desenvolvimento das forças  produtivas e os processos de racionalização cultural não cessam de criar.”

É como se a juventude simbolizasse toda esperança de um futuro promissor e a velhice uma força que desvaneceu e sobrevive de memórias. Este “determinismo social” que decreta a morte,antes da morte dos idosos, é cruel. O legado do passado deveria ter tanto valor quanto as perspectivas de futuro. Um legado de lutas, experiências, conhecimento, doação.

A intenção aqui não é generalizar que aos idosos cabe a sabedoria e aos jovens a tolice. Nada disso. A própria Bíblia afirma que há jovens mais sábios que muitos idosos:

“Melhor é um jovem pobre e sábio, do que um rei idoso e tolo, que não mais aceita repreensão.”Eclesiastes 4:13

O jovem é sábio porque aceita a repreensão, os conselhos do idoso sábio. O jovem sábio é o que considera o legado de seus pais, de seus educadores, na certeza de que ele, um dia, também será idoso. O jovem sábio não se furta da presença nem dos ensinamentos dos idosos, pois, considera que sua juventude não durará para sempre, por isso, precisará ser sábio porque a vida é mais que aparência.

Assim como existem os jovens sábios, existem também os tolos, que a exemplo de Roboão, filho do Rei Salomão, causou graves prejuízos sociais ao rejeitar o conselho dos anciãos em detrimento do conselho de jovens inconsequentes:

“Porém ele deixou o conselho que os anciãos lhe tinham dado, e teve conselho com os jovens que haviam crescido com ele, que estavam diante dele.” 1 Reis 12:8

O resultado foi desastroso: divisão, contendas, retrocesso. (Para ler todo o capitulo sobre os atos de Roboão, clique aqui).

Como árvore viçosa e frutífera:

O idoso jovial foi contemplado neste belíssimo Salmo:

"Os que estão plantados na casa do Senhor florescerão nos átrios do nosso Deus.Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e vigorosos,Para anunciar que o Senhor é reto. Ele é a minha rocha e nele não há injustiça." Salmos 92:13-15.

Ser jovem portanto, está para além da aparência. É, um estado de espírito que supera as "impossibilidades" impostas pelo tempo. Uma sociedade que não respeita e ama seus idosos, infelizmente, fadada está ao fracasso ético, moral, comportamental. Afinal, não há glória em uma geração que despreza as boas lições do passado, tão necessárias para construção de uma história humana melhor.

Deus o abençoe.

Fontes:

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Plenitude, Tradução João Ferreira de Almeida, São Paulo, Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.

ROCHA. Maria. A idade do consumo: imagens de juventude na publicidade brasileira . Em ANPOCS, acessado em Março 2015

5 comentários:

Unknown disse...

amem , Que Deus seja louvado.

Anônimo disse...

que bom amiga que ainda na velhice podemos florescer .... em qqr situação de nossa vida.... adorei seu post amiga ... bjinhos te amoo em Cristo.... fik na paz

Marcia Adriana L. Oliveira disse...

Wilma, acredito que temos a idade em três dimensões, como muito bem foi abordado no programa de Astride. Vejamos, tem-se as idades biológica, física e psíquica, ou seja, biologicamente, tem-se 44 anos, contudo, as emoções, pensamentos, permeiam pela faixa etária dos 35- 36 anos e assim, se porta, mais madura, crescida, porém com outro olhar sobre o próprio corpo e as dimensões que permeiam o relacionamento com o outro. Em outro contexto, tem-se alguém com 32 anos, mas que emocionalmente, pelas responsabilidades assumidas, tem fisicamente 44 anos, e pensa com maior maturidade sobre as coisas. O tempo é uma construção sócio cultural. E a jovialidade também é uma categoria cultural. Como diz Virginia Wolf:" o tempo de espírito é diferente do tempo do relógio". E, as construções temporo-espaciais vão ganhando outras dimensões, outros significados. Ninguém tem o direito de dizer a alguém o que pode ou não usar, o que fica bem ou não, porque cada um tem algo que se chama de "bem-estar bem". E, com o passar dos anos, e com a maturidade, a vida vai sendo redimensionada, modificada, amplificada pelo aproveitamento melhor das relações, pelo valor que é dado ao ser e não ao ter, pela alegria de um encontro, pelas melhores formas de trabalhar as dificuldades, superando-as... E, nesse contexto, em que se valoriza a construção imagética do que seja jovialidade, está é perdida na dimensão física, quando o como se sente, e como se percebe, e como se está vivendo a vida são dimensões absurdamente maiores e mais preciosas. Por isto, trata-se de Seres humanos, Homens, Mulheres adultos apenas, com mais ou menos maturidade, mais ou menos construções sólidas no campo do conhecimento adquirido ou/ e partilhado. E, nesse contexto, concordo com você, o velho, a velhice, biológica vai se apresentando e se presentificando a cada instante, contudo, a maneira como vivemos, a qualidade de vida que temos ressignificam o olhar das transformações que se passam no nosso corpo físico. Por isso, não estou negando as transformações, graças a Deus as temos, ninguém quer ser pedra... Mas, estou enfatizando que o nosso olhar sobre o que nos acontece faz toda uma diferença. E, como o nosso corpo é um "out-door" da cultura, como diz Canevacci, colamos neste e usamos o que naquele momento acreditamos e nos representa. Por isso, sou feliz com minhas múltiplas idades. E, para quem me pergunta quantos anos tenho? Sempre devolvo a pergunta com: quantos anos você me dá? Para tentar compreender o olhar do outro sobre o que apresento naquele momento, que pode ou não externar o que sinto, e o que sou. Belíssima reflexão!!! E, viva a ampliação dos olhares sobre a nossa qualidade de vida! Paz e bem (Profª Marcia Adriana Lima de Oliveira)

Wilma Rejane disse...


Oi Rosana!

E não é, mana? Abraão era um velhinho jovial, meu sogro, de 81 anos, pratica musculação, faz caminhadas, é conectado ao mundo da web e o que dizer de minha mamãe? Aos 65 é uma graça, florescendo...

Obrigada,

Também te amo em Cristo,

Bjs!



Wilma Rejane disse...



Meu Deus!!!

Querida professora, você me achou na web!!! (risos)

Como estou feliz por seu comentário tão enriquecedor neste artigo!

Obrigada por compartilhar sua forma de olhar o universo etário.

Paz e bem

Beijoka!