A fuga para os montes em Mateus 24

 


Wilma Rejane

 "Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes", Mateus 24:16

É comum vermos uma interpretação literal de Mateus 24:16, onde a "fuga para os montes" se configura em sair dos centros urbanos e se instalar em zonas campestres, esse movimento é chamado de êxodo rural e segundo estatísticas atuais, já é uma realidade (como mostra esta reportagem Aqui ) para famílias que optaram por um estilo de vida diferente do encontrado nas zonas urbanas. Contudo, compreendo que há diferença entre mudar para "os montes" significando zona campestre, cercada de árvores frutíferas, riachos, animais e conforto e o "monte" a que se refere Jesus: um lugar de refúgio, acima das cidades, e que seria habitado de forma improvisada em um tempo de tribulação.

Por todo o capítulo 24 de Mateus, Jesus descreve os sinais do fim, é um cenário totalmente apocalíptico e desolador, onde o mundo e as pessoas estarão sendo testadas em seus limites. Em meio ao estado caótico, Jesus aponta uma rota de fuga; "corram, fujam para os montes e não olhem para trás, não voltem para pegar nenhum pertence" .

As pessoas se perguntam sempre sobre o momento certo de "fugir para os montes", sobre isso Jesus também orientou: Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo (Templo); quem lê, entenda; Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes. Mateus 24:15,16 .

Primeiramente convêm destacar o sentido de Templo. No Antigo Testamento Templo era considerado como uma construção, um lugar onde as pessoas se reuniam para buscar a Deus em culto com a existência de sacrifícios de animais, sacerdotes e todos os rituais instituídos pela Lei MosaicaNa história de Israel existiram dois templos onde eram oficializados os sacrifícios, ofertas e rituais de modo geral: 

  • O primeiro templo foi construído por Salomão e destruído em 586 A.C.
  • O segundo templo foi construído em 535 A.C. por autorização de Artaxerxes  e destruído em 70 D.C. pelos romanos.

O Terceiro Templo, segundo interpretação literal, existirá durante a Grande Tribulação. Daniel refere-se a um templo em período de tribulação, ele diz que "o príncipe que há de vir" (o Anticristo) entrará nele e parará os sacrifícios no meio da Tribulação, iniciando, portanto, o período de Grande Tribulação, Daniel 9:27. 

O apóstolo Paulo menciona que o "homem da iniquidade" profanará o templo entrando nele e se declarando Deus, II Tessalonicenses 2: 3-4. O Terceiro Templo também é mencionado no livro de Apocalipse quando João é instruído a medi-lo, Apocalipse 11: 1-2.

Para os judeus fiéis às Leis propagadas por Moisés, o Templo foi e continuará sendo um lugar construído por mãos humanas, com a realização dos rituais instituídos no Antigo Testamento. Consequentemente, o Terceiro Templo será a restauração dos antigos, destruídos nos períodos 586 a.C e 70 d.C. E para que se cumpra toda escritura e se instale um governo de paz e libertação para Israel, os judeus estão nesse momento realizando as obras para o que acreditam ser o Templo da promessa, o Terceiro templo que na verdade será o Templo do Anticristo. 

O fato de no Antigo Testamento o conceito de templo se restringir a lugar de culto, não anula ou impossibilita a existência do templo ser a habitação do Espírito de Deus, no interior do homem, como veremos a seguir.


Um novo Templo em um novo tempo

O Novo Testamento introduz um significado de Templo distinto daquele;  o templo é o espírito humano: "Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de vocês mesmos? Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o seu próprio corpo."1 Coríntios 6:19-20.

A ordenança anterior é revogada, porquanto era fraca e inútil ( pois a lei não havia aperfeiçoado coisa alguma ), sendo introduzida uma esperança superior, pela qual nos aproximamos de Deus. E isso não aconteceu sem juramento! Outros se tornaram sacerdotes sem qualquer juramento, mas Ele se tornou sacerdote com juramento, quando Deus lhe disse: "O Senhor jurou e não se arrependerá: ‘Tu és sacerdote para sempre’ ".Jesus tornou-se, por isso mesmo, a garantia de uma aliança superior. Hebreus 7:18-22

Baseando-se nos dois significados de templo:

  • Para os judeus que não creem em Jesus como Messias, se dará em um templo físico, onde restabelecerão a antiga forma de culto do Antigo Testamento, pois, não creem em Jesus como Messias Salvador e aguardam a redenção de Israel através da chegada de um Messias, que na verdade será o Anticristo cuja chegada será no tempo do terceiro templo.
  •  Para o Israel espiritual, filho da Nova Aliança, mediante o sacrifício do Messias,  a abominação ocorrerá no corpo humano, templo do Espírito Santo de Deus. 
Em ambos os casos, o período da "abominação da desolação" ocorrerá em tempo de Tribulação, vindo em seguida a Grande Tribulação. Seria justamente no limiar entre Tribulação e Grande Tribulação que a fuga para os montes se daria.

"Tribulação vem do Latim tribulatio; aflição, angústia, preocupação. De tribulare; "oprimir, afligir, apertar, comprimir". De tribulum; vara para moer grão. O tribulum é um instrumento agrícola absoleto usado para separar os cereias do joio, isto é, debulhar. É um processo final para separar o joio do trigo."

Jesus adverte sobre os perigos de "fugir para o monte" no inverno, no Sábado ou no período de gravidez. A chuva e a condição das estradas, o legalismo dos judeus sobre o Sábado e a dificuldade de locomoção das grávidas poderiam dificultar em muito a fuga. 

Alguns teólogos e historiadores afirmam que as orientações sobre "fugir para os montes" se refere ao período de 168 a.C quando o governador sírio Antíoco Epifanes profanou o então templo de Jerusalém. Antíoco foi um rei que fez aliança com Jerusalém sobre promessa de paz, mas depois de um período se voltou contra os judeus proibindo-os de usar o templo para adorar a Deus, instituindo assim o culto aos ídolos, chegou a sacrificar um porco no altar e perseguiu grandemente o povo de Deus. 

O período de 70 d,C também foi crítico, o exército romano destruiu o principal local de adoração para os judeus; o templo em Jerusalém. O livro apócrifo de I Macabeus narra a profanação do templo e a fuga para os montes, no que ficou conhecido como "A revolta dos Macabeus". Porém, os judeus estão empenhados em erguer um novo templo, acreditando na restauração dos sacrifícios e dos sacerdócios, acreditando que o Messias ocupara aquele espaço para, enfim, libertar Israel de todos os inimigos. 

Conforme a profecia de Daniel (9:27- 11:31 e 12:11), ainda haverá uma outra profanação de templo, ligada ao período do fim e a profanação inaugurará o período da Grande Tribulação. Sabemos que o Messias já veio, Ele é Jesus de Nazaré, filho de Deus, Senhor e Salvador. Quem se assentará no terceiro templo judaico será o Anticristo, inicialmente ele fará paz e aliança com muitos, mas quando revelar sua tirania, profanará o templo e perseguirá Israel.

Em relação a profanação do templo, considerado o corpo humano, onde habita o Espírito Santo de Deus, é provável que ocorra no mesmo período de tempo da profanação do templo na Judéia, pois, é uma marca do discurso de Jesus se referir a judeus e a gentios. Jesus cumpriu a Lei de Moisés e  institui a graça salvadora após sua ressurreição:  Lei: "Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento", Mateus 5: 17-19.  Graça: João 3:16.  Em Mateus 24, repetindo, Jesus fala a judeus e não judeus e a "fuga para os montes" é para os judeus.  Eis o motivo de Jesus advertir sobre o inverno, as grávidas e o Sábado. 

O que  ocasionará a profanação do templo, espírito humano, está profetizado no livro de Apocalipse:

E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, Para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis. Apocalipse 13:16-18

As pessoas que receberem a trindade da Besta; sinal, nome e número, estarão condenadas eternamente, perderão a comunhão com Deus Pai e o Espírito Santo não mais habitará nessas pessoas. Sobre isto há muitas especulações, o que tem se tornado mais claro com a proximidade da volta de Cristo e o desenrolar da história humana, é que as pessoas que receberem a marca da Besta, sofrerão uma transformação tanto no físico como no espiritual. A marca, o nome e o número, poderão ser aceitos de livre vontade, mas também ocorrerá grande pressão mundial para sua implantação, visto que envolverá a capacidade de sobrevivência sobre trabalho e renda, sobre alimentação e saúde, dentre outros itens. Vale dizer que além da pressão mundial, ocorrerá um engano generalizado, Apocalipse 13:14, que fará com que muitas pessoas aceitem ser marcadas. 

Por que fugir?

A pergunta que faço sobre fugir para os montes no contexto de Mateus 24:15-20 é: "por que fugir?" Apóstolo Paulo em Filipenses 1:21 diz: "Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho."  Quer morramos, quer vivamos seremos do Senhor,  dessa forma, a fuga seria uma escolha que não afetaria a questão da salvação espiritual, mas física. Se alguém foge para os montes sem ser salvo em Cristo, poupará sua vida e quem sabe,  chegará a salvação, pelo menos, em tese, essa pessoa terá mais tempo para se arrepender e chegar ao conhecimento da graça salvadora.

Se uma pessoa é salva em Cristo, ela não terá necessidade de fugir, visto que sua vida não pertence a ele, ao mundo ou a qualquer outra coisa. A fuga não é pré-requisito para salvação espiritual, a profecia não diz que os que fugirem serão salvos espiritualmente, mas fisicamente.

Para os Montes 

Não encontro respaldo Bíblico para uma fuga generalizada para os montes para os que são salvos em Jesus Cristo, para os que são remidos pelo sacrifício expiatório do Cordeiro de Deus, por vários motivos, dentre os quais:

1- A fuga para os montes não implica em salvação espiritual, a menos que os que fugirem, arrependam-se dos pecados e confessem a Jesus Cristo como Único e suficiente Salvador.

2- Se a fuga para os montes, em Mateus 24, se refere ao povo de Deus, nascidos do Espírito Santo, não haveria necessidade de advertir sobre: o inverno, o Sábado e as grávidas.

3-Jesus falava para judeus e não judeus. O conceito de "monte" para os não judeus, é espiritual, não geográfico. "Senhor, quem habitará no teu santuário? Quem poderá morar no teu santo monte?" Salmos 15:1

4- "fugir para os montes", em sentido espiritual, é encontrar refúgio no Senhor, Deus de toda a terra, é se firmar em um lugar que não será abalado: "Elevo os meus olhos para os montes; de onde me vem o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra." Salmos 121:1,2.

Os filhos de Deus não devem temer os sinais do fim dos tempos, não devem ficar ansiosos, mas se refugiar "no monte de Deus", é nesse sentido de monte que o cristão receberá direção e salvação. É no monte de Deus, em oração e santidade que o cristão receberá coragem, livramento, pois Deus não nos deu espírito de temor para fugirmos do que há de vir (II Timóteo 1:7).

Deus nos abençoe, em nome de Jesus.


Nenhum comentário: