Coração de Maria e mãos de Marta

  
João Cruzué

Ontem, quando desci à sala para orar, um pensamento veio e eu pedi ao Senhor que falasse comigo. Ao abrir a Bíblia antes da oração, pude perceber que Deus falou. E como sempre gosto de fazer, vim até aqui para compartilhar. Pela primeira vez percebi um há um elo entre os fatos passados na casa de Marta e Maria e a parábola do bom samaritano.

-Senhor, fala comigo pela Sua Palavra, eu pedi. Há dias em que temos mais necessidades de orar que outros, e esses dias em especial, têm sido bem difíceis, pois são vários os motivos para bater, buscar e pedir recurso onde se pode achar.

Ao abrir a Bíblia pude ler a página inteira do final do capítulo 10 de Lucas,  o texto de Marta e Maria (versículos 38 à 42)  e a parábola do bom samaritano ( versículos 25 à 37). São palavras muito conhecidas, mas que ontem fizeram-se novas para mim.

A preocupação de Marta era o serviço: anda para lá, anda para cá; imagino: arranjando lenha, assoprando brasas do fogo, limpando as panelas, assando um pão, talvez depenando alguma ave, ou mesmo temperando um pequeno cordeiro. O tempo passava, o dia ou noite chegando e nada da ajuda de Maria.

Maria esquecera-se completamente do serviço. Assentada aos pés de Jesus, (não havia nem cadeiras nem mesas altas naquele tempo e naquela cultura) ouvia com o coração ardendo, o falar do Mestre. O tempo passava e ela não se cansava, como vez em quando ainda acontece em nossos dias, quando a presença do Senhor se faz muito forte conosco em uma reunião da igreja ou na oração solitária em nosso quarto.

Marta estava preocupada em servir, porém, estava ansiosa.  Maria esquecera-se de tudo porque ouvia  e queria ouvir mais das palavras do Senhor. Marta receosa em não dar conta do trabalho,  deu ordens ao Mestre: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude.

Comunicação é uma coisa boa; precisamos mesmo nos comunicar. Mas comunhão é algo muito mais profundo. Qualquer um pode comunicar-se, dizer bom dia, boa tarde, reportar o tempo; alguns podem orar acompanhados por uma hora, duas ou quem sabe até uma vigília inteira, mas nem todos assuntos falados significam comunhão; isto é mais que sabido. Comunhão é algo profundo, é sentir a presença, ser tocado pela presença e ser transformado por ela.

Muitos de nós vive fadigados, preocupados, sem tempo, quem sabe até dando ordens ao Senhor. É um corre-corre, do inicio ao fim de semana, trabalhando como Marta para fazer crescer os projetos, mas muitas vezes vazios e colhendo pouco no âmbito espiritual, por que?

Porque não se tem mais tempo para comunhão com o Senhor, não age como um noivo ou noiva apaixonado/a. Jesus quer nos ouvir e também falar conosco, mas não temos mais tempo para isso. Estamos nos enganando ao pensar que se trabalharmos dez vezes mais,  seremos muito mais eficientes e a Igreja, o órgão ou departamento que cuidamos vai duplicar de tamanho. Aí começamos a fazer besteiras, pois não conseguimos mais orientações com Deus.

A consequência disso pode ser entendida da forma como está escrita, na página da minha Bíblia:  "Descia um homem de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de salteadores, que o despojaram, espancaram-no, deixando-o quase morto. E ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho um sacerdote, que vendo-o, passou ao largo. Eis que de igual modo, também passava um levita, que também o viu e passou ao largo".

Quem são o sacerdote e o Levita? Decerto que representam os que conhecem e ensinam a palavra de Deus. Apressados, estressados,  não conseguem mais ouvir a voz do Senhor por falta de comunhão. Eles são como as mãos de Marta.

"Mas um samaritano que ia de viagem aproximou-se do ferido e vendo-o moveu-se de íntima compaixão . E aproximando-se, atou-lhe as feridas aplicando-lhes azeite e vinho. E pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. E partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, deu-os ao hospedeiro e recomendou-lhe: Cuida dele, e tudo o que mais gastares, eu to pagarei quando voltar".
 
O samaritano agiu com "mãos" de Marta e o "coração" de Maria.

Os três personagens viram a mesma cena, mas suas atitudes foram inesperadas e diferenciadas. Os dois primeiros julgaram que sua religião ou seus afazeres eram mais importantes e prioritários do que um estranho caído no chão. O primeiro era um ministro a serviço do altar e o segundo seu discípulo. Seus olhos não mais se comunicavam com o coração. Em algum lugar de suas vidas  perderam a compaixão e tornaram-se insensíveis à voz do Espírito que fala. 

E foi assim que entendi antes de começar minha oração, que não importa quão engajados nós estejamos em grandiosos projetos aos olhos alheios ou  aos nossos próprios, se dermos prioridade as coisas que nos interessam e relegarmos ao secundário os momentos que precisamos passar a sós com Deus, necessários para ouvir a Sua voz e fazer a Sua vontade, ficaremos irremediavelmente secos de compaixão, insensíveis e sem comunhão.

Por isso, vamos colocar o título da mensagem na ordem correta: "Coração de Maria e mãos de Marta". Primeiro a comunhão e depois o serviço. Jesus Cristo em primeiro lugar por todos os dias, do inicio ao fim, dessa forma, poderemos trabalhar com o coração cheio da presença de Deus!
 
Deus o abençoe, em nome de Jesus.
 
João Cruzué edita o blog Olhar Cristão e colabora com o Tenda na Rocha / Imagem cortesia pixabay

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