Movimentos sociais: Messianismo

Guerra de canudos no sertão da Bahia 1896 a 1987


Os movimentos messiânicos trazem em si uma visão de utopia social que os aproxima do pensamento revolucionário.Que há em comum entre os libertários europeus do início do século XX e o beato cearense Antônio Conselheiro (1830-1897), que liderou o Movimento de Canudos na segunda metade do século XIX no sertão baiano? Existe na trajetória de ambos, uma visão messiânica que acompanha o pensamento e a atuação social.

O messiânico é uma doutrina encontrada em algumas religiões da Pérsia antiga e foi incorporada pelos judeus durante a dominação persa nos séculos VI a IV a.C. Os judeus construíram sua concepção do Messias como aquele que viria libertar o seu povo e criaria ou restauraria um governo de paz e de prosperidade. Seu reinado seria um tempo de justiça onde os pobres seriam abençoados e os ricos e perversos castigados.O cristianismo tem seu conceito de Messianismo, seguindo as Escrituras Sagradas: Antigo e Novo Testamento. Jesus, identificado como o Messias, vai retornar no final dos tempos e se transformar no guerreiro que combatera o Anticristo, personificação do mal, e instalará o milênio de paz no mundo.


A socióloga Maria Isaura Pereira de Queiroz define o Messias como “alguém que é enviado para trazer a vitória do Bem sobre o mal, ou para corrigir a imperfeição do mundo, permitindo o advento do Paraíso Terrestre; tratando-se de um líder religioso e social. O líder messiânico é carismático, tem atributos extraordinários e é também um profeta, portador de uma nova mensagem divina em oposição aos sacerdotes, o clero estabelecido oficialmente.”

O messianismo tomou formas políticas e, num processo de inter-relações mediadas pela utopia, um sentimento de esperança e transformação social, encontrado tanto na religião quanto na política, contribui para a formação do pensamento libertário europeu dos séculos XIX e XX (anarquismo, anarco-sindicalismo, marxismo) na sua visão de uma nova ordem social, um mundo novo igualitário tal qual preconizavam os profetas judaicos.Além das funções rituais, a religião  historicamente tem desempenhado o papel de catalisadora do protesto social. Nos movimentos messiânicos isso ocorre de forma clara, pois estão ligados a crises de estrutura e organizações sociais.

Os messianismos são considerados movimentos sócias por serem sempre coletivos, dinâmicos e buscarem a destruição de estruturas consideradas injustas e a construção de um novo mundo. Trata-se de um agrupamento formado por homens, mulheres, crianças, famílias organizadas cujo núcleo é um individuo com atributos sobrenaturais, um  líder carismático. Em geral o líder fundava uma cidade santa, onde os eleitos de Deus viviam de forma harmônica, seguindo preceitos éticos e normas internas que visavam o pleno funcionamento da comunidade governada por leis divinas.

A comunidade messiânica esperava a instalação de um reino celeste na terra, onde haveria plena felicidade, fartura e justiça para todos. O reino pode ser o Milênio de Cristo, mil anos de paz e felicidade, prometido nos textos bíblicos aos eleitos de Deus. O milenarismo é tipicamente cristão, porém não se confunde com messianismo pois é possível esperar um messias sem determinar a duração dessa espera e a de seu reino, e, como no judaísmo sem acreditar que ele já se manifestou.

Pelo fato de serem movimentos com caráter de contestação à ordem estabelecida os agrupamentos messiânicos foram destruídos pelos governos ou desqualificados pelas igrejas, desde os primeiros tempos da colonização. No período colonial (1500-1822) encontra-se registros de movimentos messiânicos entre os indígenas, que desenvolveram o mito da terra sem males ou das santidades. O jesuíta Fernão Cardim (1548-1625), missionário na Bahia, em seu livro tratados da terra e da gente do Brasil (1583-1590), registrou que entre os indígenas “se alevantaram algumas vezes alguns feiticeiros, a que chamam caraíba, santo ou santidade, e é de ordinário, algum índio de ruim vida: este faz algumas feitiçarias, e coisas estranhas à natureza: traz após si todo o sertão enganando-os dizendo-lhes que não rocem, nem plantem seus legumes e mantimentos, nem cavem, nem trabalhem, etc. porque com sua vinda é chegado o tempo em que as enxadas por si  hão de cavar  e às roças irão  trazer os mantimentos”.

Uma  “idade de ouro” que se juntou aos ensinamentos Bíblicos adquiridos na catequese e proporcionou o surgimento de movimentos considerados heréticos, a exemplo da “Santidade de Jaguaripe”, na Bahia, entre 1580 e 1585. Convém salientar que os jesuítas desqualificavam quaisquer manifestações religiosas e indígenas. Tal identificação com o messianismo é uma leitura contemporânea, partilhada por diversos historiadores da religião.

Em meados 1817, o sertão de Pernambuco foi palco do movimento A Cidade do Paraíso Terrestre, a chamada Revolta da Serra do Rodeador. Aglutinou muitos fiéis em torno do beato Silvestre José dos Santos (um ex-militar), os quais acreditavam na volta do rei D. Sebastião, que com seus exércitos transformariam os líderes em príncipes, os pobres em ricos e aumentaria a fortuna do lugar. Desde então, movimentos desse tipo eclodiram tanto no nordeste quando no sul do país, como a revolta dos Mucker, no Rio Grande do Sul, e o contestado, em Santa Catarina.

Em 1893 surgiu nos sertões da Bahia o arraial de Canudos, considerado o maior movimento messiânico brasileiro. O recém instalado regime republicano não poupou esforços no combate ao Arraial do Belo Monte, cidade santa criada pelo beato católico Antônio Vicente Mendes Maciel, o conselheiro. Uma quadra popular dá dimensão da esperança que o beato provocava nas populações mais carentes: “quem quiser remédio santo/ lenitivo para tudo/ procure conselheiro/ que esta La nos canudos”. O arraial chegou a ter cercas de 25 mil pessoas e foi considerada a segunda cidade da Bahia naquele momento. Longe de ser bárbara e arrepiadora, como disse Euclides da cunha, em Os Sertões (1902), a oratória do conselheiro se identificava profundamente com as aspirações das desassistidas populações do interior nordestino.




400 jagunços prisioneiros no arraial de Monte Belo. Crença no paraíso terrestre. Ameaça para a igreja e o Estado. Foto: Flávio Barros

O paraíso terrestre, milênio de paz se tornaria concreto na vida dos habitantes do arraial do Belo monte, que também esperavam a vinda de d. Sebastião para restaurar a ordem publica. Essa visão sagrada da monarquia, somada a um contingente expressivo de seguidores disposto a pegar em armas em defesa de sua cidade santa, era tida como uma ameaça pela jovem republica. Em 1895, o exercito iniciou uma guerra contra canudos, concluída após três campanhas, com a destruição do arraial e a morte de conselheiro em 1897.

Ainda no nordeste, de 1872 a 1934 se desenvolveu um movimento em Juazeiro no norte, no ceara, dirigido pelo padre Cícero Romão Batista (1844-1934), a quem eram atribuídos milagres e poderes extraordinários. Multidões acorriam a juazeiro em busca das bênçãos do “Padim” a hierarquia católica não reconheceu os milagres e puniu o sacerdote, mas permitiu-lhe continuar em juazeiro, temerosa com a reação dos romeiros. Padre Cícero fez alianças políticas duradoras, transformando-se também em líder político e constituindo-se com os seus romeiros na maior força eleitoral naquele momento.

Os romeiros identificavam o “Padim” com o Espírito Santo e com Deus, e Juazeiro com Jerusalém. Em seus sermões descrevia o juízo final identificava o vale do Cariri, onde Juazeiro esta situado, com o vale de Josafá, rei que governou Judá na antiguidade e ficou conhecido com rico, temente a Deus e que fez o povo judeu prosperar e voltar-se para os preceitos divinos. A fé dos romeiros era alimentada com os sermões e as promessas de paz, justiça e prosperidade. Após a morte do padre Cícero, os romeiros continuaram a frequentar a cidade santa para pedir milagres e bênçãos ao padrinho. Alguns esperam até hoje sua volta gloriosa para proteger os pobres e os enfermos.

Padre Cícero em seus sermões identificava o Cariri com a terra prometida, onde reinaria a paz, a justiça e a prosperidade.

O messianismo tanto no Brasil quanto no mundo tem se constituindo, por tanto, como um canal de expressão dos problemas sócias e políticos, uma alternativa para criar uma nova ordem social e sanar as injustiças. Uma sociedade como a brasileira, a religião se apresentou como núcleo central, alimentando as ações e dando sentido coletivo as transformações sociais, almejadas especialmente pelos seguimentos populares.

A verdade sobre o Messias é encontrada na Bíblia, nela está a Verdade para o que Foi, É e o que há de vir. Nela está escrito: “ E surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos “Mt 24:11.
   
A história dos movimentos messiânicos no Brasil e no mundo,  está ligada a ondas de enganos e desgraças onde tanto pessoas simples quanto nobres são conduzidas em “lavagem cerebral” a um falso mundo de paz. Alguns acordam a tempo, outros sequer acordam , dormindo eternamente em perdição.  Somente através do conhecimento Bíblico e da fé no verdadeiro Messias, Jesus Cristo, é possível a libertação do engano, dos falsos profetas, e do pecado.


ELIZETE DA SILVA e professora de historia na universidade estadual de Feira de Santana (BA) e na UFBA É autora de (protestantismo e religiosidade popular). In: COUTINHO, Sergio Ricardo (org.). Religiosidades, misticismo e historia no Brasil central. Brasília: CEHILA.

Acréscimos feitos por Wilma Rejane.

4 comentários:

Eduardo Medeiros disse...

oi wilma, tudo bem?

gostei muito deste texto, mas o final destoa completamente do que vem antes.

a análise social, religiosa, mística do messianismo foi feita de forma excelente, mas fechar um texto destes com a convocação para que se aceitem o "verdadeiro messias" destoa e destoa pelo fato de que todos os seguidores de um messias o tem como verdadeiro.(tirando aqueles que abriram os olhos)

é minha opinião.
beijos

Aliane disse...

ESSE BLOG É UMA BENÇÃO!
JÁ ESTOU TE SEGUINDO.
FICAREI FELIZ SE FIZER UMA VISITA NO MEU CANTINHO TMB.
OBRIGADA.

Wilma Rejane disse...

Oi Eduardo, tudo bem!

A verdade sempre destoa da mentira e vice-versa. Penso que o fato de os seguidores dos falsos messias o terem como verdadeiro, é apenas mais um forte motivo de falar sobre o que realmente seja verdadeiro.

Obrigada
Deus o abençoe Edu.

Wilma Rejane disse...

Oi Aliane!

Obrigada amiga,

Passo lá no seu blog, tá?

Deus a abençoe.