O casamento no Salmo 45




Wilma Rejane


Ouve, filha; vê, dá atenção; esquece o teu povo e a casa de teu pai; Então o Rei se agradara de  tua formosura; pois ele é o teu Senhor; inclina-te perante ele. Salmo 45: 10-11.

O Salmo 45 é um cântico que representa um matrimônio, prefigurando profeticamente o relacionamento de Cristo com sua noiva: a Igreja. O escritor de Hebreus também faz referência a este Salmo para descrever Jesus como Messias (Hebreus 1:8-9) .

O músico Masquil, salmista, inspirado pelo Espírito Santo, descreve a majestade e graça de um valente rei que cavalga em corte para rainha; uma rainha separada, entre as muitas filhas de reis, a que por amor, deixa a casa dos pais para contrair matrimônio. E esse matrimônio é repleto de simbolismos. Do noivo se diz que a graça se derramou em seus lábios e Deus o abençoou mais que os demais homens , suas vestes cheiram a mirra, aloés e acácia, Deus o ungiu com óleo de alegria. Da noiva, que é ilustre, vestida com tecidos de ouro e que será levada ao altar por virgens, seus filhos serão príncipes e os povos a louvarão.

E para que um rei case com uma rainha, é necessário que a rainha abdique dos costumes de sua nação, pátria, de sua casa e cultura para poder habitar com o cônjuge. Assim, esquecer o teu povo e a casa de teu pai no Salmo, implica mais que se distanciar da família, mas abraçar uma nova vida, seguindo novas convicções. A dor da saudade e do rompimento será compensada pela alegria do óleo da unção que dividirá com o esposo. Essa referência sobre deixar a casa dos pais encontra semelhança na vida de alguns servos de Deus ao longo da história Bíblica:


Deixando teu povo e a casa dos pais:

Abraão - Precisou deixar Harã ao Norte da Mesopotâmia , a casa de seus pais e seguir em direção a terra prometida, deixando para trás uma região idolatra de pessoas que constantemente se curvavam aos deuses familiares.  Abraão, Sara e servos precisavam crescer em fé e comunhão, abraçando novas convicções, aliançando-se   com Deus. A união dá origem a Isaac (riso) filho da promessa.  Através desse matrimônio surgem príncipes e povos .


Jacó – Ou deixava a casa dos pais ou seria morto pelo irmão Esaú, revoltado com a perda da benção patriarcal. O passado aflito de Jacó é apagado através de sua fé e perseverança em mudar de vida e receber as promessas de Deus. Jacó faz aliança com Deus que muda seu nome para Israel. Embora Jacó tenha sofrido com a desobediência de alguns de seus filhos, nos últimos dias de vida é recompensado: reencontra o filho José como governante do Egito e tem as forças restauradas pela graça do perdão e do arrependimento que alcança toda família. Os frutos desse matrimônio ainda são vistos na formação do Estado de Israel, no testemunho de fé que ressoa fortemente no coração dos filhos da fé.



Davi – Foi separado muito jovem para ser rei. Retirado de detrás das malhadas, o menor entre todos os irmãos, filhos de Jessé. Ele precisava partir para crescer, ser transformado. É irônico, mas seus irmãos de sangue, não enxergavam a grandeza de Davi, antes o viam como um jovem sem muitas perspectivas, frágil e limitado em dons. Até que Deus o separa, derrama sobre ele o óleo da alegria e Davi deixa os costumes e a casa dos pais para abraçar novas convicções. Se tivesse permanecido em Belém com os irmãos sua história teria sido bem diferente:

Por que desceste aqui? Com quem deixaste aquelas poucas ovelhas no deserto? Bem conheço a tua presunção, e a maldade do teu coração, que desceste para ver a peleja.” 1 Samuel 17:28. A própria família que não o achava capaz de lutar e vencer o gigante Golias, contudo, a fé de Davi fez com que não apenas vencesse o gigante, o transformou em rei de Israel.


Eles partiram, mas não mudaram...

Ló – Sobrinho de Abraão, partiu de Harã, da casa dos parentes na mesma caravana de Abraão, porém não teve como alvo a Terra Prometida, apesar das muitas oportunidades. Por que isso aconteceu? Porque Ló se embaraçava com as coisas dessa terra, sua incredulidade e desobediência a Deus causou algumas maldições : ofereceu as filhas aos varões de Sodoma e Gomorra, bêbado coabitou com as filhas dando origem a nação de Moabe, tantas vezes citada como repreensível aos olhos do Senhor. Contudo, através da bondade e misericórdia de Deus, Moabe também se torna povo da aliança.

Saul – Teve oportunidade de mudar não apenas a sua história como a de todo um povo, porém, por causa do orgulho, inveja e incredulidade perdeu o trono, a honra e por fim negou a fé ( se é que algum dia tivera) consultando uma pitonisa, entregando seu destino a Satanás.


Concluindo

O Salmo 45 é uma bela alegoria sobre "deixar a casa dos pais", no sentido de deixar os velhos hábitos, costumes, a velha criatura e se aliançar com o Reino de Deus. Nascemos em pecado, em um contexto familiar diverso que influencia nosso modo de ser e pensar e muitas vezes, insistimos em permanecer nos mesmos erros e tradições de nossos antepassados, apenas por desconhecer a verdade salvadora, libertadora de Jesus Cristo que nos convida à uma nova mentalidade (Romanos 12). 

Deixar a casa dos pais não significa abandonar os pais, a família, mas abandonar tudo que um dia seguimos como verdade, sendo, contudo, mentiras e imposições desse mundo decaído. 

O Reino de Deus nos chama para entrega, para intimidade, comunhão, para dar bons frutos. O branco das vestes matrimoniais são como a pureza do espirito, do viver em santidade, perseguindo a vontade do Reino de Deus, ainda que morando em uma terra provisória. O que é provisório se desfará e o que permanecerá será o reino espiritual que não poderá ser abalado (II Pedro 3).

Através dos exemplos dados no texto, vimos que algumas pessoas foram mais bem sucedidas em relação a perseverarem na fé e na obediência a Deus, outros pereceram na caminhada. Fato é que temos uma vida social, necessitamos de trabalho, estudo, afazeres diários, coisas que nos cansam fisicamente e também espiritualmente. Percebamos que os exemplos dados no texto, também foram de pessoas que tinham seu afazeres diários, sofriam perseguições e cansaço, falharam, mas se ergueram através do arrependimento e perdão. 

Não precisamos abandonar as coisas que Deus nos confiou como: trabalho, família, dentre outros. O que a Bíblia nos revela é que em tudo quanto fizermos, quer seja no campo ou na cidade, onde estivermos, precisamos colocar toda nossa fé e esperança no Reino de Deus. Reconhecendo que tudo é passageiro, que somos mordomos, que somos guardados e amados, ainda que não vejamos, ainda que hajam dias ruins, abalos inexplicáveis! Deus jamais abandonará seus filhos!

Jesus Cristo breve virá, que Ele nos ajude a nos mantermos firmes nessa terra, vencendo o mundo e o pecado, tendo nossa confiança plena no Reino dos céus, de Deus Pai.






Um comentário:

Pr José Antônio disse...

Graça e paz!!! Parabéns pela riqueza de conteúdo!!!