Wilma Rejane
Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem." Mateus 7:6
Como aplicar a passagem bíblica de Mateus 7 no dia a dia? Ela parece nos dizer para não desperdiçarmos coisas valiosas com certo tipo de pessoas. Para compreendermos melhor vamos verificar o significado de "cães". A palavra aparece na Bíblia se referindo à: animais de modo literal (João 10:12) e homens (Salmo 22:16; Filipenses 3:2; Mateus 15:21,28). A raiz da palavra cão, trás uma surpresa, ela denota um tipo de personalidade.
cão no grego = kunikos = cínico. A palavra surge na Grécia, em meados do século IV a.C. derivada de corrente filosófica, defensora da indiferença, escárnio, falta de pudor e também de interesses materiais. Dois principais filósofos ficaram bem conhecidos por terem levado ao extremo o cinismo, são eles: Antístenes e seu discípulo Diógenes que morava em um barril e usava uma lanterna. Posteriormente à corrente do cinismo é que a palavra se propagou como adjetivo, descrevendo características de homens detestáveis, dissimulados, indiferentes, escarnecedores.
Por todo Seu ministério, Jesus conviveu com o cinismo, embora não tão chocante como o cinismo grego que promovia nudez em público, falta de higiene, escárnio extremo. O cinismo estava presente na indiferença e escárnio dos fariseus que não amoleciam seus corações por nada, nem por cegos que voltavam a enxergar, nem por pessoas que eram ressuscitadas. Os fariseus acompanhavam o ministério de Jesus, unicamente com a finalidade de criticar e menosprezar. Jesus, contudo, não desperdiçava Seu tempo com eles, mas ia de encontro aos pobres, humildes, sedentos por justiça.
Em nenhum momento no Novo Testamento, é relatada a conversão genuína de algum fariseu, apenas perseguição e descrédito ao Reino de Deus. Os fariseus eram os "cães", o tipo de pessoas sobre quem Jesus adverte. O fariseu de hoje não está necessariamente nos templos, mas em qualquer lugar ou circunstância onde haja cinismo e escárnio ao Reino de Deus. É curioso saber que no amor ao próximo está incluída a sabedoria do silêncio, do saber afastar-se, do abster-se para não configurar desperdício, desgaste. Os "cães" são como aquela figueira à beira da estrada que Jesus amaldiçoou, uma árvore enganosa e infrutífera.
O Reino de Deus está disponível para todos, Jesus Cristo não faz acepção de pessoas, Ele ama e recebe à todos que se arrependem de seus pecados, à todos que o reconhecem como Senhor e Salvador. Jesus é tão bondoso que não aguarda sermos perfeitos para nos receber, Ele nos recebe com todas as imperfeições e vai trabalhando em nós, através do Espírito Santo para nos melhorar. Os cães, porém, parecem não fazer parte das pessoas que têm humildade para reconhecer os pecados, têm um coração oscilante como descrito por apóstolo Tiago em sua epístola:
"Aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem que se vê no espelho, mas depois de olhar para si mesmo, saí e se esquece de sua aparência" (Tiago capítulo 1 versículos 23 e 2).
De fato, na corrente filosófica do cinismo, não era comum o uso de espelhos, mas de lanternas, para procurar o erro alheio, as falhas do mundo, não às suas próprias.
Meditar sobre os cães, provoca em nós a necessidade de discernimento, de sabedoria, especialmente no que diz respeito as coisas santas, ao Evangelho. Ora, Jesus aconselhou aos discípulos certa feita: "Se alguém não os receber nem ouvir as suas palavras, saiam daquela casa ou cidade e sacudam a poeira dos vossos pés" (Mateus 10, versículo 14). Nem todos rejeitam o Evangelho porque são cães, mas todos os cães rejeitam a Verdade, o Evangelho. Sobre estes não devemos criar atritos, desgastes, Jesus nos advertiu sobre. O que fazer? Jesus ensinou na prática como agir, Ele prosseguiu, não parou, não odiou, não revidou. Em alguns momentos os chamou abertamente de hipócritas, tinha toda autoridade para isso, conhecia os corações. Não temos tamanha autoridade, muitos de nós ainda estamos em busca de discernimento e sabedoria, sabemos contudo, quando há situações de escárnio e desprezo ao Evangelho, nesses momentos, o amor de Jesus deve transbordar em nós nos dando a sabedoria do perdão e do silêncio.
O Espírito Santo de Deus está com todos os que são nascidos de novo, eis a certeza e esperança de sermos guardados e caminharmos em harmonia com Deus. Quando não soubermos o que fazer, quando algum cão estiver a perturbar nossa vida, não convém se encher de raiva, rancor, palavras duras. Convém abster-se, afastar-se, orar e entregar para Deus em oração. Há um versículo animador no livro do profeta Isaías, ele diz : "Quer você se volte para a direita, quer se volte para a esquerda, uma voz lhe guiará dizendo: Este é o caminho siga-o" (Isaías capítulo 30, versículo 21). Então, onde estiver os cães o Espírito Santo deve lhe guiar.
Deus o abençoe, em nome de Jesus!
* ALMEIDA, João. Bíblia de Estudo Plenitude. Sociedade Bíblica do Brasil. Ed 1995. São Paulo/SP.? Imagem cortesia Pixabay.
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