O Mito da Caverna e o Cristianismo



Wilma Rejane


O  texto de Platão chamado “Mito da Caverna”, resiste ao tempo e mesmo tendo sido escrito há mais de quatro mil anos é atualíssimo, podendo ser aplicado a várias esferas da vida: política, religião, psicologia, amor, educação, entre outros. O diálogo entre Sócrates e Glauco, monta a narrativa dialética de forma surpreendente. É simples, de fácil compreensão, porém repleto de alegorias, simbolismos e verdades. Aliás, o ápice do texto, é o desvendar da verdade que se apresenta como a luz, mais precisamente o sol. 

A linguagem alegórica de Platão me lembra as parábolas de Jesus, a forma como o Mestre utiliza figuras do cotidiano para se fazer entender. É claro que existe um diferencial na essência dos discursos, as Palavras de Jesus, são Espírito e Vida Jo 6:63, enquanto Platão faz uso de sua impressionante sabedoria humana. Não obstante a origem autoral, esse texto traduz fielmente o processo de conversão. A saída do homem do seu estado de escuridão espiritual, para o Reino da Luz que é Jesus: "O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o Reino do Filho do seu amor" Cl 1:13.

Na filosofia, o texto traduz ascendência, é quando o sujeito deixa o universo do Eikones (imagens produzidas), para o Eidos (idéias, formas). Eikones é inferior, imperfeito, um estado surreal que não expressa a Verdade, apenas a enganosa semelhança das coisas. Eidos é a verdade revelada, a perfeição, a consciência em seu estado excelente. Comparo o Eikones, ao mundo das trevas e o Eidos da Salvação.

Vejamos alguns trechos do magnífico “Diálogo da Caverna” :



***“Sócrates – (...) Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna com uma entrada aberta à luz esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoço acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar à cabeça, a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles, entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores armam diante de si e pro cima das quais exibem suas maravilhas.

Glauco – Estou vendo.

Sócrates – Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie, que o transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.

Glauco – Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.

Sócrates – Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que numa tal condição, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e dos seus companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica defronte?” ***

As Cavernas: Quantos de nós vivemos em cavernas? Os prisioneiros não podiam mover-se livremente, nem enxergar em todas as direções. A visão era limitada, porque estavam acorrentados uns aos outros.  O lugar era escuro, mas com uma abertura para a luz que chegava-lhes de uma fogueira acessa em uma colina. Para se chegar até a colina, percorria-se uma estrada ascendente.

"Os prisioneiros transportavam estatuetas." As estatuetas estão classificadas no mundo Eikones, das coisas inferiores. Os prisioneiros estavam ligados a elas. Isso lhe lembra algo?  Sim, elas representam as imagens de esculturas, os ídolos, que aprisionam os homens em cavernas, impedindo-lhes de encontrar a Luz. Representam toda sorte de enganos.

A estrada ascendente do lado de fora da caverna, representa o processo de conversão. Entramos no Reino de Deus, como crianças, nos alimentando de leite, e depois crescemos a ponto de degustarmos alimentos sólidos I Cor 3:1-3. Santidade exige renúncia diária, possível apenas aos que perseveram em crescer, obedecer. Essa estrada tem  começo e fim. Não tem bifurcação. Uma vez libertos, é preciso se manter  no caminho para não se tornar prisioneiro novamente : "dela não te desvies, nem para direita nem para esquerda, para que prudentemente te conduzas por onde quer que andares" Js 1:7.

O incrível, dessa alegoria é que os prisioneiros são incapazes de deixarem sozinhos o lugar. Eles necessitam serem tirados de lá, em um doloroso processo: ***“Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos esses movimentos sofrerá”***

A Bíblia nos ensina que somos convencidos do pecado, sozinhos jamais sairíamos “dessa caverna”: “O Consolador convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” Jo 16:17, 18. O processo de conversão, é o sentido da vida, é a saída do mundo das sombras para o mundo da Verdade, é quando o homem descobre o porquê de sua existência. Em Deus todas as respostas são verdadeiras e firmes.  Nada que se compare a servidão dos ídolos. Esse momento da vida, por vezes é através da dor. Tal qual o prisioneiro sofrendo para escalar as paredes da caverna em direção a saída.

O ápice do diálogo entre Sócrates e Glauco, descrito por Platão, é quando o prisioneiro saí da caverna e encontra a luz. Daí ele tem obrigação de voltar à caverna e libertar os outros prisioneiros. Aqui vejo a missão dos nascidos de novo: evangelizar.  Uma vez conhecedores da verdade, não podemos ignorar, negligenciar o chamado. Jesus disse: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” Mc 16:15.

O mundo é essa caverna descrita por Platão onde os prisioneiros estão imobilizados, escravos da escuridão. Cabe aos que encontraram a Luz, resgatá-los.

As cavernas também podem ser situações, paixões, ideologias, heresias, correntes que ainda nos mantém aprisionados ao mundo das sombras. Façamos uma reflexão sobre essa fantástica alegoria procurando identificar: “Estou na Caverna”? Se estou, preciso sair dela. Lembre-se ninguém sai sozinho. No texto de Platão, os prisioneiros são libertos através da maiêutica, um método que instiga a dúvida. O prisioneiro obtèm respostas, a medida que duvida. Sua busca pela verdade, o conduz a Verdade.

O cristianismo tem esse objetivo de revelar a medida que se busca, que se tem sede: "E buscar-me-eis e me achareis quando me buscares com todo o vosso coração" Jr 29:13. e outra vez, está escrito: "De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir a Palavra de Deus". Rm 10:17. Portanto, é necessário duvidar para se chegar a certeza das coisas. O prisioneiro duvidou de que a escuridão da caverna era o melhor lugar para se está. Daí, partiu em direção a saída, sendo motivado por suas respostas. A dúvida da existência, da morte e da vida, podem despertar a fé. O ouvir a Palavra de Deus, suscita a fé e redime as dúvidas.

Jesus é esta Luz que liberta os homens da caverna. Ele se apresenta como a Verdade, Ele é a Verdade. No Mito da caverna, a verdade é o sol, porque faz com que o prisioneiro passe a enxergar a realidade ao invés de sombras. O Mito da Caverna, do celébre Platão, nos conduz a uma realidade salvitíca: "Jesus é o Caminho a Verdade, e a Vida, ninguém vai ao Pai a não ser por Ele" Jo 14:6. Saia da caverna.

3 comentários:

Alice Rampani disse...

Ah irmã...vc eh abençoada em suas palavras..Deus te guia de um jeito, que seu texto suscita compreensão e gloria a quem o lê...Deus te guarde !
Amém Senhor!

Georges disse...

Acho ótimo que as escamas estejam caindo por terra. Em fevereiro deste ao postei em meu blog um arigo sobre o mesmíssimo tema, que com sua permissão divulgo o enderço, para que você possa ler e quem sabe, contribuir com sua opinião:
http://doa-a-quem-doer.blogspot.com/2011/02/kaka-o-mito-da-caverna-e-matrix.html
Um abraço, e que Deus abençoe.
Georges

Anônimo disse...

Texto maravilhoso...muito util ,farei uma apresentação de seminário baseada nessa visão em minha escola.Muito obrigada Sra.Wilma