Maria escolheu aquilo que mais importa

Cristo com Marta e Maria, por Henryk Siemiradzki, 1886 (Domínio Público)
Wilma Rejane

E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa;E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra.Marta, porém, andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude.E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; E Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada. Lucas 10:38-42

Betânia era uma aldeia cerca de três quilômetros de distância de Jerusalém. Jesus e seus discípulos iam constantemente para lá, gostavam de repousar especificamente na casa dos irmãos Lázaro, Marta e Maria. Em uma das ocasiões, surge um diálogo muito marcante entre Jesus e as irmãs, no cenário estava Marta, a irmã mais velha que movia-se  de um lado para outro da casa,  preparando a refeição. Enquanto isso, Maria aconchegava-se aos pés de Jesus ouvindo-o atentamente. O banquete que interessava a Maria era o espiritual. Marta, por sua vez,  mostrava-se irritada com a posição de Maria. E nesse ambiente de oposição de comportamentos, Jesus elogia a Maria e repreende cordialmente a Marta. Vamos analisar esse diálogo entre Jesus e as irmãs, ver de que modo podemos aplicar os ensinamentos daquele dia à nossa vida cristã hoje, pois, vivemos em um universo repleto de ofertas que objetivam nos distrair e afastar da comunhão diária com Jesus.

Marta, certamente, era uma mulher notável, disposta, hospitaleira, responsável. Contudo, pelo modo como se dirige a Jesus, demonstra sentir-se frustrada. Imaginemos que após aquela refeição em sua casa, Marta estaria muito mais afadigada com louças para lavar e coisas para pôr em ordem. Enquanto isso, Maria estaria mais feliz e espiritualmente mais forte. E quantos de nós não somos tão parecidos com Marta? Fazendo mil coisas ao mesmo tempo, todos os dias? O resultado é frustração e cansaço. Maria se abastecia ao pés de Jesus encontrando "combustível" para o dia, para a vida. Marta tinha disposição física e vontade em servir bem, porém, não compreendia (ainda) sobre prioridades. E é sobre isso que Jesus adverte: Ele não condena o servir de Marta, mas sua atitude de insatisfação e fadiga. Jesus estava falando sobre organizar a rotina de modo a não se sobrecarregar com coisas que não eram essenciais. Será que Maria era uma mulher acomodada, preguiçosa? Claro que não! Certamente, era alguém que de modo prudente e simples conduzia sua rotina, trabalhando e reservando um tempo para se deixar moldar por Jesus.


Uma certeza de que Maria também era uma mulher trabalhadora nos chega através das seguintes passagens Bíblicas João 11:2 que diz: " Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com unguento e lhe tinha enxugado os pés com os cabelos, cujo irmão Lázaro, estava enfermo".   Mateus 26: 6-7 : " E, estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso, aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro, com unguento de grande valor, e derramou-lhe sobre a cabeça, quando Ele estava assentado à mesa". Maria de Betânia, foi a mulher que ungiu Jesus antes de sua morte.  Na época havia o costume de ungir os mortos preparando-os para o enterro, Maria, portanto, ao ungir Jesus, o fazia em ato profético. Aquele unguento derramado sobre a cabeça tinha para Maria um valor material e um outro valor incapaz de ser expresso em palavras ou cifras: o unguento era a melhor oferta, o que de mais precioso ela encontrou para dedicar ao amado de sua alma.  Em Marcos 14:5, está escrito que o unguento valia "300 denários".

Como Maria havia conseguido um produto tão caro? Denário era uma moeda romana, feita de prata, correspondia a um dia de trabalho, um denário = um dia de trabalho. 300 denários=300 dias de trabalho. Maria havia economizado trezentos denários com o objetivo de ungir Jesus, ofertar algo preciosíssimo! Maria, portanto, era uma mulher trabalhadora, determinada e que tinha como prioridade servir a Jesus. Imaginemos quantas coisas poderiam ser compradas com 300 denários, Maria julgou que nada era mais valioso que sua comunhão com o filho de Deus. Assim, através de outras passagens Bíblicas sobre Maria, concluímos que o fato de ela não auxiliar Marta naquele jantar em sua casa, mas escolher sentar-se aos pés de Jesus ouvindo-o, de maneira alguma significa indiferença ao trabalho, comodismo ou qualquer outra coisa parecida.

O problema de Marta era considerar dispensável ouvir Jesus, parecia que o fato de Jesus está presente em sua casa, era suficiente. Marta ainda não havia percebido que Jesus não era um homem comum, mas Maria demonstrava ter consciência disso. Marta levou mais tempo para compreender as coisas espirituais, pois, estava muito arraigada às coisas naturais. Já escrevi uma vez ser irônico que o exemplo sobre servir bem nos chegue através de Maria e não de Marta. Contudo, hoje vejo o modo de servir de Marta (ainda que imperfeito) como fator de extrema importância para reunir Jesus e os discípulos em sua casa.  A providência de Marta proporcionava conforto e alegria aos presentes, sua atuação não deixava faltar nada aos hóspedes: comida boa, casa limpa e um espírito de colaboração que percebia as necessidades do outro com prontidão.

Marta ainda precisava aprender, todos nós precisamos. Precisamos aprender sobre as coisas que mais importam, sobre não andarmos ansiosos e correndo de um lado para outro com a mente dividida. Um verso de Mateus nos diz: “Não andeis preocupados, cuidadosos com muitas coisas...” Mt 6:25. A tradução para “andeis cuidadosos” é “merimnao” de “merizo”, que quer dizer “dividir em partes” (Dicionário Strong 3309) . Marta estava dividida, preocupada, ansiosa. Maria não.

A vida não era fácil para aquela família de Betânia, sem pai nem mãe,  os irmãos Marta, Maria e Lázaro tinham que trabalhar para se manter e havia um vazio pela perda que sabemos ser irreparável. Mas  Maria encontra em Jesus a restauração de sua alma, o remédio para sua tristeza, os vazios da alma vão sendo preenchidos a ponto de ela abandonar o luto em um passado distante e renascer em esperança para o futuro. Aquele unguento comprado com 300 dias de trabalho era uma prova do amor de Maria, todos os dias ela pensava e agia seguindo seu amor por Jesus, ela tinha a mente de Cristo ( pelo menos almejava ter). 


Marta também foi transformada a ponto de em João 11, por ocasião da ressurreição de Lázaro, vermos ela confessar sua fé em Jesus como filho de Deus. Marta é a primeira que corre para encontrar Jesus, Maria o aguarda sentada em casa. Percebe-se que Marta tinha um modo ágil de ser, era alguém que provavelmente se prontificava a servir enquanto Maria ponderava. A despeito de quaisquer diferença de comportamento entre as irmãs lemos:  João 11:5  Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro. 

Antes de elogiarmos Maria em detrimento de Marta recordemos que "somos transformados de glória em glória, pelo Espírito do Senhor Jesus" (II Coríntios 3:18). Jesus repreendeu Marta, mas não afugentou-a à ponto de provocar repulsa, Ele a amava e pacientemente aguardou que Marta compreendesse quem Ele era. Isso foi possível porque Marta tinha alegria em recebê-lo em sua casa. Maria, por sua vez, além de tudo, tinha alegria em ouvir Jesus, aprender com Ele. São situações diferentes, que nos ensinam sobre fé e conversão. 

Muitas vezes julgamos que servir bem é agir como Marta, correr de um lado para outro fazendo muitas coisas na igreja ou em outras ocasiões. Jesus nos diz que é necessário voltarmo-nos para Ele, para a Pessoa Dele, é necessário ter a mente de Cristo, Ela nos moverá dia após dia para que estejamos prontos para uma eternidade com Ele. 

Também temos a tendência de julgarmos, condenando ou elogiando o ativismo religioso. E Jesus nos mostra, através do diálogo com Marta e Maria, que o ativismo não representa conversão, nem sempre o agrada. Também nos mostra que , nesses casos, devemos ser pacientes e amorosos com as pessoas mesmo não concordando com o modo como trabalham. Para não incorrermos no mesmo ativismo (ansioso e frustante), convêm elegermos prioridades: entregar a vida, o dia, tudo aos cuidados de Cristo. Um sentimento de paz e felicidade tomará conta de nós ao agirmos seguindo o Espírito Santo. Mas se estivermos constantemente tristes, frustrados e murmurando, será tempo de parar, mudar de direção.

Quero ser como Maria, mas recordo que Maria nem sempre foi a "Maria ideal" até ter um encontro real com Jesus Cristo. Me recordo que Jesus é paciente com todos, assim como foi com Marta, pois muitas vezes encontramos-no ansiosos e movendo-nos de um lado para outro sem priorizar as coisas do Reino de Deus. E Jesus aguarda-nos, repreende-nos, e tantas vezes não compreendemos por estarmos culpando o outro, esquecendo-nos que temos o exercício da escolha. Aprendo que na casa dos irmãos em Betânia, antes de querer ser como Maria, temos que amar a Marta e não deixar que comportamentos como o dela sejam capazes de afastar-nos da comunhão com Jesus. Digo isso porque muitos cristãos afastam-se de suas igrejas, de seu convívio familiar, de sua fé, por incomodarem-se com palavras e gestos que ofendeu o modo de relacionarem-se com Cristo. Maria não se ofendeu com a atitude de Marta, ela prosseguiu adorando, pois sabia que poderia escolher entre prosseguir ou não. Jesus diz: "Maria escolheu a melhor parte". 

Que possamos aprender com essa família em Betânia e que Jesus esteja sempre em nosso lar, em nossos corações.

Com amor

2 comentários:

Wilma Rejane disse...



Olá,

Temos vários estudos sobre Marta e Maria no blog, mas este é inédito.

Espero que sejas abençoado com o estudo, pois aprendi muito, sou grata por isso.

Até mais

Angélica disse...

Sim! Um ponto de vista novo sobre uma Palavra Viva. Aleluias!!
Que o Eterno te proteja e te dê alegrias, Wilma. Paz e paz...